Os médicos-veterinários são freqüentemente questionados e solicitados a darem orientações a proprietários de animais de estimação a respeito da toxoplasmose.
Considerando que boa parte dos profissionais da saúde ainda possui muitas dúvidas a respeito das modalidades de infecção humana, do perigo potencial desse parasita nos vários segmentos da população em risco e do verdadeiro papel do gato doméstico na transmissão da doença, não é de surpreender que a população de maneira geral esteja mal-informada a respeito do problema. Muitos médicos e veterinários ainda fazem recomendações, quanto aos animais de estimação, baseadas, muitas vezes, em preconceito e desinformação.O Toxoplasma gondii é um protozoário coccídio, parasita intracelular obrigatório que infecta a grande maioria dos animais de sangue quente, inclusive o homem.
Muitas espécies de vertebrados servem como hospedeiros intermediários, incluindo anfíbios, peixes, répteis, aves e mamíferos. Os gatos servem tanto como hospedeiros definitivos quanto como intermediários e se infectam pela contaminação fecal ou pela ingestão de carne crua.
No gato, o hospedeiro definitivo, além desse ciclo, ocorre também o ciclo sexual nos intestinos, também chamado ciclo enteroepitelial. Após o gato ingerir tecidos de suas presas contendo cistos, as paredes desses cistos são dissolvidas pelos sucos digestivos no estômago e intestino delgado.
O Toxoplasma gondii é transmitido principalmente de três maneiras, infecção transplacentária, ingestão de alimentos ou água contaminados com oocistos esporulados de fezes de gatos e ingestão de carne crua ou mal-cozida contendo cistos teciduais. Em geral, não voltam a excretar oocistos quando reinfectados, pois desenvolvem imunidade, devido à primeira infecção.
A maioria dos gatos que caçam são freqüentemente reexpostos ao T.gondii, mantendo, portanto, sua imunidade intestinal.
Os gatos, em geral, defecam e enterram suas fezes em terra fofa ou areia. Geralmente, as fezes são consistentes e podem permanecer no local por meses. A menos que o gato esteja doente, pouco ou nenhum resíduo fecal fica aderido à região perianal, e os gatos, em geral, não estão diarréicos durante o período de excreção de oocistos. Por causa de seus cuidadosos hábitos de limpeza, matéria fecal não é encontrada na pelagem de gatos clinicamente normais. Portanto, a possibilidade de transmissão para seres humanos pelo ato de tocar ou acariciar um gato é mínima ou inexistente.
Também é improvável que uma mordida de gato possa transmitir a infecção, pois os taquizoítos dificilmente estarão presentes na cavidade oral de gatos com infecção ativa e nenhum estará presente na boca de gatos com a infecção crônica. Arranhões também são improváveis meios de transmissão do T.gondii.
Vários estudos têm demonstrado que a fonte de infecção da toxoplasmose mais comum nos países industrializados parece ser o contato e consumo de carnes cruas ou mal-cozidas contendo cistos do T.gondii.
A carne suína é considerada a maior fonte de infecção, para os seres humanos. O T.gondii pode sobreviver por mais de um ano no suíno, persistindo na musculatura, inclusive nos cortes mais utilizados para consumo humano. A infecção pela carne pode dar-se não somente pelo consumo, mas também pela manipulação da carne crua, contato com superfícies de preparação de alimentos, facas e outros utensílios.
Já foram relatados casos de toxoplasmose humana relacionada com o consumo de leite de cabra in natura. O risco de se adquirir a toxoplasmose pelo leite de vaca é considerado mínimo.
A infecção em humanos usualmente passa desapercebida ou se apresenta como uma afecção benigna, autolimitante, em indivíduos imunocompetentes. Por outro lado, a infecção congênita ou a infecção no paciente imunocomprometido pode resultar em doença debilitante ou até fatal.
A maioria das infecções em pessoas adultas é subclínica, detectável somente através da soroconversão. Somente em 10 a 20% das pessoas imunocompetentes, a infecção primária é acompanhada de alguns sintomas, como febre, linfoadenopatia transitória, dores de cabeça e dores musculares . Com freqüência, pede-se aos médicos-veterinários que façam recomendações a respeito do convívio de gatos com mulheres grávidas. Às vezes, eles devem até mesmo confirmar conselhos dados pelos médicos. Infelizmente, alguns médicos e veterinários estão desinformados ou agem de maneira preconceituosa sobre o fato de se possuir um gato e, a alguns clientes, são feitas recomendações que não podem ser consideradas razoáveis, nem válidas.
Pessoas consideradas como tendo risco de adquirir a infecção devem tentar evitar o contato com cistos teciduais e oocistos, mediante uma série de medidas simples e muitas vezes ignoradas, quando se leva em consideração apenas a presença de gatos na casa.
A fim de prevenir a infecção em seres humanos pelo T.gondii, as pessoas devem lavar cuidadosamente as mãos com água e sabão após o contato com carne crua. Tábuas de carne, superfícies de pias e outros utensílios em contato com carne crua devem ser lavados com água e sabão, pois a água eliminará os estágios do T.gondii encontrados na carne. A carne deve ser cozida, para alcançar a temperatura interna de 67?C, antes de ser consumida. Considera-se que o preparo da carne no forno de microondas não seja capaz de matar os cistos, devido ao cozimento desigual . Deve-se também evitar o hábito de experimentar a carne enquanto está cozinhando ou embutidos caseiros em fase de maturação.
Mulheres grávidas e indivíduos imunocomprometidos devem evitar trocar a caixa de areia dos gatos. A remoção diária das fezes da caixa de areia também evita a exposição, pois os oocistos serão removidos antes que possam esporular .
Como o principal papel do gato na transmissão do T.gondii está na sua capacidade de contaminar o solo com grande número de oocistos, as pessoas sob risco deveriam usar luvas ao mexer com a terra, para evitar contato com esses oocistos. Frutas e verduras devem ser cuidadosamente lavadas antes do consumo, pois podem estar sujas de terra contaminada.
Como a maioria dos gatos se infecta pelo consumo de carne contendo cistos, aos gatos de estimação não devem ser dados carne crua, vísceras ou ossos, e deve-se evitar ao máximo que saiam de casa para caçar.
Medidas para combater os vetores mecânicos também devem ser implementadas.
Esforços têm sido empregados no desenvolvimento de uma vacina que seja eficaz para evitar que os gatos excretem oocistos, para o ambiente, após a infecção primária; e, alguns desses experimentos têm sido bem sucedidos. Apesar de uma vacina comercial ainda não estar disponível, as perspectivas são promissoras.
Fonte:www.gatosegatos.com.br